Corria o ano de 2000 e a cidade de Juiz de Fora se preparava para comemorar 150 anos de existência. Enquanto isso, um dos maiores e mais importantes conjuntos de obras do – e sobre o – município tinha futuro incerto: o plural acervo pacientemente colecionado pelo jornalista Dormevilly Nóbrega durante décadas estava à deriva. O paradoxo dava início a mais uma luta do vereador Flávio Cheker.
Audiências públicas, sensibilização da mídia e da sociedade, mobilização de entidades privadas e do poder público, visitas ao acervo marcaram dez anos de intensos trabalhos até o feliz desfecho celebrado hoje: a assinatura do contrato de aquisição do acervo de Dormevilly pela Universidade Federal de Juiz de Fora.
Cheker elogiou a decisão afirmando que “uma das ações que mais denotam o espírito republicano do homem público é reconhecer a supremacia do interesse coletivo sobre as divergências políticas”. Também parabenizou os herdeiros pelo censo de cidadania e, principalmente, por manter a identidade do acervo do pai, recusando-se a fragmentá-lo.
O vereador, também um apaixonado pelos livros, falou do grande amor por eles que se percebia em Dormevilly. Segundo ele, o jornalista sabia exatamente a localização de cada obra, em um acervo que ultrapassava 10 mil volumes. “O grande epitáfio de Dormevilly talvez seja este: a paixão eterna pelos livros, que é agora consagrada pela assinatura do contrato”, concluiu.
O reitor da UFJF afirmou que a aquisição foi motivada pelo exemplo de cidadania de cada um dos presentes à cerimônia, amigos e parentes do jornalista. Ele lembrou ainda da “boa cobrança” de Cheker, que acompanhou todo o processo, e enfatizou a importância de parcerias entre órgãos do poder público, como a firmada entre a Universidade e a Câmara Municipal de Juiz de Fora na preservação do acervo.
Dormevilly Nóbrega Júnior, filho do jornalista, mostrou-se satisfeito de poder realizar o sonho do pai, de manter o conjunto de obras na cidade. Apesar de terem recebido manifestações de interesse por parte de entidades de outros municípios, os herdeiros priorizaram propostas que atendessem a esse desejo.
Com a assinatura do contrato, o acervo – que inclui livros, revistas, jornais e documentos diversos – passará por um processo de catalogação. Em seguida, ele será disponibilizado ao público, para a consulta.
Um longo caminho
A intenção de transferir o acervo para uma entidade pública foi manifestada por Dormevilly ainda em vida. Em 2000, o jornalista demonstrou ao vereador Flávio Cheker sua preocupação com a conservação das obras, cujo local de armazenamento encontrava-se em progressiva deterioração.
Na ocasião, Cheker presidia a Comissão de Educação e Cultura da Câmara e aprovou um requerimento solicitando, em função do sesquicentenário da cidade, a organização de três acervos particulares, dentre os quais o de Dormevilly.
A partir de então, foram realizadas diversas ações nesse sentido, até que, em audiência pública convocada pelo vereador em 2007, a UFJF dispôs-se a celebrar um termo de convênio com a família de Dormevilly, com a interveniência da Câmara Municipal, para a transferência, inventário, classificação, catalogação e avaliação do acervo. A assinatura do termo ocorreu em 13 de abril de 2007.
No início de 2010, a universidade decidiu pela aquisição definitiva do acervo, concretizada hoje.